O meu amor não cabe num poema-há coisas assim,
que não se rendem à geometria desde mundo;
são como corpos desencontrados da sua arquitectura
os quartos que os gestos não preenchem.
O meu amor é maior que as palavras; e daí inútil
a agitação dos dedos na intimidades do texto -
a página não ilustra o zelo do farol que agasalha as baías
nem a candura a mão que protege a chama que estremece.
O meu amor não se deixa dizer - é um formigueiro
que acode aos lábios com a urgência de um beijo
ou a matéria efervescente os segredos; a combustão
laboriosa que evoca, à flor da pele, vestígios
de una explosão exemplar: a cratera que um corpo,
ao levantar-se, deixa para sempre na vizinhança de outro corpo.
O meu amor anda por dentro do silêncio a formular locuras
com a nudez do teu nome- é um fantasma que estrebucha
no dédalo das veias e sangra quando o encerram em metáforas.
Um verso que o vestisse definharia sob a roupa
como o esqueleto de uma palavra morta, nenhum poema
podia ser o chão a sua casa.
Maria do Rosário Pedreira.
1 comentario:
¡Conseguiste tocarme la fibra!
Un magnífico poema... me gusta mucho. Rico en la palabra, y en la metáfora, que muy bien disimula.
Versos un poco largos, pero de un cálido recorrido.
Gracias, sabes que "a viola e a guitarra" calan en mi.
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